O itinerário da Igreja anualmente se repete não como os
ponteiros do relógio, que passam sempre pelos mesmos números, mas como o trem
que atravessa lugares diferentes, numa sucessão de novidades e surpresas. Assim
é o ano litúrgico, que se inicia no primeiro domingo do Advento, com o ciclo do
Natal. É Deus que se manifesta a nós na pequenez de uma criança, mora algum
tempo conosco e não nos abandona nunca, não obstante o seu retorno para a casa
do seu Pai.
Apesar de celebrarmos o Natal todos os anos, em cada um a
Criança de Belém chega com novos presentes pendurados na árvore da fé e da
amizade. São de cores, formas e tamanhos diversos. Não há repetição nem rotina,
porque o mistério da encarnação não se esgota em nenhuma realidade ou manifestação
humana. Há sempre uma mensagem nova na liturgia natalina, um sorriso diferente de
Jesus, que nos aguarda de braços abertos na noite santa.
Entretanto de nada adianta admirarmos a criatividade divina
se não a reproduzirmos em nossa convivência com Deus e em nossos
relacionamentos com o irmão. A singularidade de cada Natal é motivação para que
não façamos da nossa vida páginas digitadas com o mesmo tipo e o mesmo formato.
Uma caminhada verdadeiramente cristã se faz notar pela sua constante renovação.
Ela também deve ser notada na criatividade da nossa fé, que não se manifesta
como rotina nem como frustrações. Quem convive com a Bíblia e se alimenta com a
eucaristia jamais perde o sabor da novidade presente em qualquer gesto de
acolhimento, de solidariedade e de justiça. Por isso, o autêntico cristão
mantém a jovialidade do coração, mesmo que a vida não lhe tenha sorrido sempre
e muito lhe pese nas costas.
Que este Natal traga a cada um de nós a graça da renovação,
que dá maior brilho ao nosso testemunho. Que a estrela de Belém nos guie sempre
para a gruta onde nos encontramos com a “beleza sempre nova e sempre eterna”.
Feliz Natal!
D. Geraldo Majella Agnelo
Cardeal Arcebispo Emérito de Salvador
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